domingo, 9 de março de 2008

O barulho do Silêncio...


"I went to the woods because I wanted to live deliberately...
I wanted to live deep and suck out all the marrow of life!
To put to rout all that was not life...
And not, when I had come to die, discover that I had not lived..."

Na semana passada fui fazer uma caminhada na serra do Gerês, estive rodeado por montes e mergulhado nos bosques, senti-me bem...
A meio da caminhada afastei-me um bocado do grupo e sentei-me numa pedra coberta por musgo verdinho, à sombra de um carvalho curvado pelo tempo e pelo vento; um pequeno carreiro de água corria a meus pés, folhas caídas faziam como que pequenas barragens ao ténue curso de água, mas apesar de pequeno e frágil, a água não se desviava muito do seu trajecto e dessas barragens de folhas resultavam pequenas quedas de água, que provocavam aquele som típico da água a cair, um som que de tão puro e harmonioso relaxa e acalma a mente e o espírito... Fechei os olhos e concentrei todos os outros sentidos... O cheiro da terra húmida e verde parecia limpar-me os pulmões e a mente de toda a perversidade e poluição da cidade... Abri as minhas mãos e com elas o tacteei a brisa que se entrelaçava nos meus dedos... A mesma brisa que sussurrava qualquer coisa nos meus ouvidos e trazia com ela os sons do silêncio... O cantar os pássaros... as folhas a cair... a água do riacho a protestar contra as barragens de folhas... o estalar das árvores que respondiam à brisa que as empurrava e vergava... Toda a Natureza me falou naquele momento... Senti-me pequeno e ao mesmo tempo grandioso... Pequeno porque reparei que nada sou perante a pureza e complexidade do silêncio... grandioso porque tive o privilégio de ser colocado neste mundo para tudo isto ver e sentir...

Ninguém pode dizer que viveu totalmente, se nunca se dispôs a ouvir o silêncio no meio dos montes onde ele é rei e senhor...

Senti-me solto, leve, envolvido pelo silêncio, levado pelo vento... E tal como uma semente confia nele para a transportar a um bom destino, eu confiei que ele me desse resposta às minhas perguntas e me desse um rumo e um local para eu brotar e crescer...

Descobri muito de mim naquele momento...
Pegando no pequeno curso de água...
Também no nosso percurso individual, é natural que se atravessem no caminho pequenas folhas que formam barragens ao nosso caminho... Não podemos só por causa disso deixar de seguir o nosso rumo... Dentro de nós temos forças que não sabemos que existem e elas mostram-se nesses momentos de dificuldades e ajudam-nos a ultrapassar este escolhos... Depois de os ultrapassarmos, olhamos para trás e vemos quão belo foi o nosso percurso e algo de curioso acontece: as dificuldades que quebraram a monotonia do caminho passado tornaram-se pequenas quedas de água embelezando o carreiro já percorrido...

Naquele momento estive longe dos Homens, das cidades, das janelas, das donzelas, mas estive perto de Deus... Ele murmurou-me no silêncio e eu escutei-O...
Se me pedirem uma prova da existência d'Ele eu digo: "Vai para a serra... Sobe à montanha mais alta e abre os olhos e verás que nenhuma outra mão poderia esculpir com tal perfeição toda aquela serra e se achares um monte rude, olha de novo e verás pormenores que não podes imaginar... Depois fecha-os e abre os braços... Ouve a brisa, abraça o vento e sente o barulho do silêncio, aí se estiveres de ouvidos e coração aberto, Ele chamar-te-á pelo teu nome..."

Não, não me esqueci do paladar... Simplesmente ainda estou a saborear o silêncio que ouvi na serra...

2 comentários:

Sara disse...

Isto foi... mágico, Filipe. Obrigada por partilhares isto connosco... =) Também eu muitas vezes me afasto do grupo, me sento nas pedras mais confortáveis e fico a apreciar tudo à minha volta, porque é de facto aí que Ele se encontra, pelo menos assim eu acredito. =)

E também eu continuo a lutar contra as "barragens de folhas" para poder olhar para trás daqui a muitos anos e sentir que valeu a pena. =)

Beijinho [*] Sara

Anônimo disse...

Sweet escape, 20/Março 0:50


Já são as horas que são, já "morro" de sono, apesar de andar aqui aos pinchos a ouvir música da Gwen Stefani...

Quando tiver os olhos bem abertos devido a efeito da cafeína, colocarei um comentário mais decente.

Pelo que vejo fala da Natureza. Pois desde já tenho a dizer que não há nada mais maravilhoso, fascinante, extraordinário, saudável, equilibrado que a Natureza. Bem, este ultimo esta mais para o desiquilibrado devido a tanta poluição (Ai que tenho panico aos radicais livres! =s).

Bah, é bom saber que voltaste ao activo, pois seria um desperdicio não publicares as tuas opniões e tal... Tens jeito para a escrita.

E viva à música... awuuuu

Ass: Sweet Escape