quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

O "H" e eu...






Escrevam num papel um "H" maiúsculo à boa maneira primária... Olhem para ele... Quando andava na escola primária era das letras que mais gostava, desenhava-a com cuidado para não estragar a sua beleza natural... Mas eu gosto do "H" não só por isso, gosto dele pelas parecenças que tem comigo... O "H", como já disse, é das letras mais bonitas e que dão mais trabalho a desenhar... Mas tanta beleza e tanto trabalho para no fim, quando se lê não se dá por ele... Passa despercebido no meio das outras letras... No entanto é aquela letra necessária, que serve de apoio às outras, que lhes dá vida! Mas esse apoio e essa vida nunca são retribuídos... É necessária mas sozinha, não faz sentido, não diz nada... Bonita...Mas sem sentido... Um "H" bem feito no inicio de uma frase salta à vista, as pessoas reparam logo nele! "wow! este "H" está perfeito!", mas não passa de um espasmo momentâneo, um reparo que desvanece com o tempo. Quem o vê e aplaude, logo esquece a sua beleza e a sua integridade como letra superior e mais elaborada do que as outras... num texto nem se dá pela sua presença... As pessoas preferem as coisas mais simples, mais rudes, de encanto inferior... Contentam-se com o bom, em vez de procurarem atingir o excelente... Tomemos como exemplo a letra "A"; é muito mais fácil de redigir e num texto, por mais feio que esteja, uma pessoa apercebe-se que ele está lá! Um "A" sozinho faz sentido, mas um "A" com "H" faz a diferença! E quem fica a ganhar com a entoação? O "A"! Em escrita de telemóvel ou de chat os "A's" são todos iguais, já não se recorre ao "H" e porquê? Porque dá trabalho e o "A" sozinho faz bem o seu papel... Às vezes sinto-me como o "H"... Um meio para chegar a um fim... Um apoio, necessário no início mas dispensável no meio ou no fim... Tal como o "H" salto à vista dos outros: "Eh pá, és genial!","És um gajo cinco estrelas!","Não existes! És o Rei!" Fico radiante quando ouço isso, mas tal como o "H" são "espasmos momentâneos"... Olho para trás e vejo... ...que nunca tive ninguém que pudesse chamar de confidente... ...nunca tive ninguém que me convidasse para uma simples passagem de ano... ...nunca tive ninguém que me convidasse para passar férias... Por vezes questiono-me se tenho verdadeiros amigos, ou apenas amigos de ocasião... Quando alguém precisa de alguma coisa não falho! Faço para que tudo corra na perfeição! "Eh pá é preciso fazer uma cena muito marada, vamos falar com o Athos, ele é um tipo porreiro, impecável e nunca falha!" eu venho faço as coisas e no fim "espectáculo! Melhor do que o que eu pensava! Eu não te disse que aquele gajo é impecável?" Alegria momentânea... E resultados a longo prazo? O que pretendia era ter um grupo de pessoas que me acharam um tipo porreiro por fazer o que fiz, mas que depois se tornasse num grupo de amigos em quem eu podia confiar... Tal como o "H" eu estou sempre, mas sou sempre um terceiro nas conversas, sou sempre alguém que se pode falar, mas ninguém se aproxima para confirmar o que os outros falam, ninguém se dá ao trabalho de ver como é que sou desenhado, quais os meus pormenores... Como o "H" bonito no particular...Invisível no geral... Um exemplo prático meu são as serenatas... faço serenatas, e esforço-me para que a segunda seja melhor que a primeira, e que toda a serenata desde o primeiro acorde até ao fechar da janela seja um momento mágico! Todas dizem que sou um romântico, que sou um exemplo para os outros rapazes, que adoravam ter alguém como eu...mas quando me tento aproximar mais das janelas...caio...e a dor da queda persegue-me... sinto um vazio, o mundo fica em tons de cinza e sinto-me sozinho numa multidão... ninguém para dar a mão, ninguém para abraçar, ninguém para beijar, só porque sim, ninguém para dizer "Amo-te"... Será que como o "H" estou destinado a ser invisível para os outros? Creio que não, virá alguém um dia que me compreenderá, que será com eu! Será o meu "N" ou "L"... "nh","lh" cada uma das letras dá um bocado de si o "H" não está em segundo plano, ambas são necessárias, têm a mesma importância...Um sem o outro não fazem sentido...

Um comentário:

Sara disse...

Tarde demais, cheguei aqui.

Cheguei e fiquei boquiaberta... Não que me surpreenda a qualidade do que escreves, o sentimento que transmites ou a simplicidade com que mostras a quem quiser ler o que te vai na alma. Surpreende-me, isso sim, que te sintas um "H".

Filipe, acredita em mim, mais vale um H do que mil A's, B's, C's, ou qualquer outra letra. O importante é sentirmos que marcámos a diferença, a nossa presença. E ainda que as pessoas não valorizem isso de início, sabemos (sei que sabes que sim...) que, um dia, elas vão lembrar-se do que fizemos por elas.

E, como tu, acredito que os H's não estão destinados a ficar sozinhos... =) [*]

[vou ficar aqui mais perto, agora.]